O vento

O vento...


O vento soprava enquanto eu ia

Por caminhos tortuosos descia

No peito um coração que sofria

Mesmo assim minha alma sorria



Ser a brisa suave ele queria

Mas a pele na face enrijecia

O vento soprava enquanto eu ia

Ver onde o horizonte se perdia


Além do mar que se encolhia

Vou voar e me perder no céu um dia

Entre os anjos sei que me envolveria

Jamais provar a dor que me consumia

O vento soprava enquanto eu ia



quinta-feira, 24 de junho de 2010

OS IMORTAIS

Dos vales terrenos
chega até nós o anseio da vida:
impulso desordenado, ébria exuberância,
sangrento aroma de repastos fúnebres.
São espasmos de gozo, ambições sem termo,
mãos de assassinos, de usurários, de santos,
o enxame humano fustigado pela angústia e o prazer.
Lança vapores asfixiantes e pútridos, crus e cálidos,
respira beatitude e ânsia insopitada,
devora-se a si mesmo para depois se vomitar.
Manobra a guerra e faz surgir as artes puras,
adorna de ilusões a casa do pecado,
arrasta-se, consome-se, prostitui-se todo
nas alegrias de seu mundo infantil;
ergue-se em ondas ao encalço de qualquer novidade
para de novo retombar na lama.
Já nós vivemos
no gelo etéreo transluminado de estrelas;
não conhecemos os dias nem as horas,
não temos sexos nem idades.
Vossos pecados e angústias,
vossos crimes e lascivos gozos,
são para nós um espetáculo como o girar dos sóis.
Cada dia é para nós o mais longo.
Debruçados tranqüilos sobre vossas vidas,
contemplamos serenos as estrelas que giram,
respiramos o inverno do mundo sideral;
somos amigos do dragão celeste:
fria e imutável é nossa eterna essência,
frígido e astral o nosso eterno riso.
Herman Hesse, O Lobo da Estepe