O vento

O vento...


O vento soprava enquanto eu ia

Por caminhos tortuosos descia

No peito um coração que sofria

Mesmo assim minha alma sorria



Ser a brisa suave ele queria

Mas a pele na face enrijecia

O vento soprava enquanto eu ia

Ver onde o horizonte se perdia


Além do mar que se encolhia

Vou voar e me perder no céu um dia

Entre os anjos sei que me envolveria

Jamais provar a dor que me consumia

O vento soprava enquanto eu ia



segunda-feira, 3 de maio de 2010

Evolução, Thomas de Quincey, CharlesBaudelaire, no Paraíso e Artificialidades...

Com o passar do tempo o conceito de transformação absorveu a idéia de evolução, há controvérsia nesta afirmação, não se pode esquecer os que fruto do seu envolvimento com bebidas e outras substancias avançaram sobre um território perigoso descontrolado e cruel. Aplicar o princípio evolutivo num processo tão complexo que é o de desvendar-se a si mesmo tanto por uma incessante busca interior quanto exterior através de substancias que abrem inúmeras variantes ao que Baudelaire chamou de paraísos artificiais, satisfação momentânea que os homens buscam para fugir da mediocridade existencial a que muitos estão condenados, ainda que com sequelas.muitas vezes irreversíveis.Outro exemplo é o de Reinaldo Ferreira, jornalista português polemico e espirituoso era viciado em morfina, viveu entre os extremos da realidade e o devaneio, a partir das décadas de 20 e 30 quando atingiu seu ápice profissional caiu em declínio sucumbiu e morreu, anterior a ele, Thomas de Quincey escritor inglês por volta de 1813 declarou-se “ opiômano regular e inveterado” assumindo publicamente o vicio do ópio. Hoje o mercado consumidor da droga só sabe aumentar os infernos artificiais dominam territórios em expansão e não precisamos citar famosos, os anônimos recheiam as paginas dos jornais diariamente, ampliando estatísticas aumentando a distancia social, condenando ao ostracismo aqueles que nunca tiveram oportunidade em favor do enriquecimento dos privilegiados que estão no topo do cenário midiático que tanto eleva quanto destrói. Não defendo nem faço apologia extremada da liberdade individual, realmente defendo que o fluxo da informação seja eficiente atingindo sem distinção toda a sociedade então para mim liberdade é sinônimo de informação. Ao longo da história nos deparamos com todo tipo de desafio imposto pela construção do processo de civilidade, mas em algum ponto desta trajetória perdemos nossa capacidade enquanto sociedade de administrar as diferenças de equilibrar e minimizar a distancia entre aqueles que mesmo parte do tecido social está ao largo das decisões dos avanços técnicos e tecnológicos em resumo da preconizada evolução. O rumo que iremos tomar em relação ao elevado grau de degradação dos valores humanos depende de uma profunda reflexão e ação coletiva, estamos na encruzilhada da história e cabe perguntar: Você tem fome de que? Você tem sede de que?
È preciso acordar.

domingo, 2 de maio de 2010

Vem ver o Sol...

Tarde de sol, a sensação revigorante do calor nos favorece até devaneios filosóficos existenciais. George Harrison cantou em Here Comes The Sun:” Sol,sol,sol, aqui ele vem?” imortalizando no verso “Os sorrisos voltaram aos rostos” como a presença do astro rei em nossas vidas altera o humor.
Mas dentro da dualidade que rege o universo que nos cerca, o excesso é extremamente prejudicial ao equilíbrio,
e longas estiagens alteram o processo natural, imploramos umidade que nos refresca e harmoniza.
As variantes que esta reflexão propicia apontam na personalidade humana todas estas alterações que a natureza realiza no rito eterno entre o dia e a noite. Mutáveis é o que somos, e das questões que me motivam reside nesta intangível capacidade de doação de alguns seres tachados muitas vezes de lunáticos, doidos, para os perdidos, os artistas, arautos da metamorfose humana, um salve pro Raul, possuem esta ferramenta a renúncia a serviço do espírito humano, entregam-se a uma luta feroz em muitas situações contra eles mesmos, contra suas fraquezas para seguir em frente desbravando, avançando, ampliando em todos os campos do gênero humano.
Agora é noite, e as preocupações que ela traz ocupam o pensamento, temos dentro das nossas trajetórias costumes desenvolvidos a partir das experiências temos então reações diferentes ao meio em que estamos.
Lembro a música e a memória pulsa com: “Sempre nesta dança sem sentido a vanguarda e o retrocesso”, avanço no escuro, rumo à madrugada, a mente vai percorrendo seu caminho provocando reações em todo corpo até o repouso, logo é manhã e a jornada recomeça, e a dança..., liberdade, revolução, transformar a vida a sociedade, não parece muita presunção um ser tão limitado acreditar que pode realmente alterar o rumo da história que através da expressão influencie transmita pela arte todos os sinais. Na verdade poder passar estas minhas inquietações sinceras é impulsionado pela esperança de que em alguém reverbere a energia, retorne avance, retroalimente e permita acreditar que existe riqueza no simples, beleza no singelo exercício de ouvir a si mesmo, mas sem nenhum tipo de intervenção este diálogo interior tem por necessidade como enfatizou Allen Ginsberg de valores nus, ou seja desprovido na medida do possível de toda e qualquer influencia. A arte esta presente desde que se tem noticia de vida na Terra, alimentamos o subjetivo para delinear o objetivo, então me permitam invocar Neal com: ”Não deixe passar mais nenhum dia na sua vida sem um toque mágico, mude seu comportamento”.
Uma boa semana a todos

Uma história, tutela, liberdade, controle e revolta...

Hoje se refletirmos sobre o cenário em que somos expectadores e protagonistas simultaneamente poderíamos descrever como o de um filme de terror.
Uma nova crise de violência na Grécia motivada pela perda da soberania para o “capital global” que exigiu do governo medidas de austeridade econômica extremamente duras para a sociedade grega. Estamos na véspera do 1º de Maio, data histórica que nos remete ao ano de 1886, em Chicago o principal centro industrial dos Estados Unidos naquela época, é deflagrada a Greve Geral Até a Conquista organizada pelo movimento operário. Chicago em 1886 foi palco de cenas muito semelhantes as da Grécia na atualidade, violência institucional e repressão são as praticas truculentas do Estado presentes na história desde os seus primórdios. Enfrentamentos, prisões, mortos e feridos foi o resultado 124 anos atrás sendo presos August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel como responsáveis pelos acontecimentos, Albert Parsons que também fora condenado permaneceu livre até o dia do julgamento quando se apresentou espontaneamente, o final deste episódio resulta na condenação á morte na forca de: Parsons, Engel, Fischer, Lingg, Spies, Fieldem e Schwab à prisão perpétua e Neeb a quinze anos de prisão, o dia 1º de Maio passou para a história como o Dia Mundial do Trabalho e ainda ecoa no tempo as palavras de Parsons: "Arrebenta a tua necessidade e o teu medo de ser escravo, o pão é a liberdade, a liberdade é o pão".
O Estado passou a organizar-se de forma preventiva e chega a atualidade amparando-se na legislação como tutor de toda vida social, fora da tutela do Estado tudo é ilegal, ilegítimo sem direito a liberdade como cidadão.
Este controle exercido sutilmente a que nos submetemos aponta o elevado grau do aperfeiçoamento dos mecanismos disponíveis a estrutura do poder que fracionam minimamente o indivíduo, manifestar resistência tem o devido tratamento. Não é ficção, hoje liberdade é uma daquelas palavras que carregam o peso da História, da filosofia, da apologia da arte, livre... Um ser livre, sonho, quimera, não estamos livres desde o ponto de vista biológico até o psicológico, liberdade é só uma palavra sonora e musical, já cantou o poeta, são tantos verbos de persuadir, são tantos objetos indiretos que sujeitam um sujeito a não existir, condicionais do porvir, a liberdade a despeito dos maniqueísmos é objetivo maior da humanidade, nascemos sonhando com a liberdade e no apagar das luzes ansiamos por ela . Mas quando nenhuma possibilidade da liberdade se tornar inatingível surge à revolta, fruto do medo, medo exatamente de nunca nos tornarmos livres, atacamos movidos por ódios, rancores devidamente guardados em seus compartimentos secretos, aflora o pior do gênero humano: a violência.
Somos bombardeados incessantemente por tanta informação direcionada que fatalmente nos tornamos reféns deste modelo, não esqueço a frase profética do Eduardo Galeano: “O sonho de uma pulga é comprar um cachorro” exatamente isto, um modelo onde a célula social, o ser humano, é despersonalizada em busca da saciedade primitiva com base no consumo desenfreado a partir do acumulo irracional de bens e valores. Provoca a competição, a cobiça do alheio num moto continuo nocivo que só aumenta os índices de violência urbana reflexo do desequilíbrio social. A alternativa é refletir e aproveitar momentos como o 1º de Maio repleto de memória e exemplo daqueles que não perderam sua energia criativa e sempre acreditaram no valor essencial da humanidade: a vida.